A cocriação subentende a colaboração entre várias partes (internas e externas) com o objetivo de encontrar soluções inovadoras para um determinado problema, ou, como gosto de denominar: “nó górdio”, isto é, um problema que aparentemente não tem solução, mas que pode ser mitigado se abordado sob o ângulo mais adequado. Será a criação de CRI 2.0 um “nó górdio” para os Hospitais do SNS?
Atualmente, os Hospitais do SNS estão inseridos num contexto em profunda mudança que se espera benéfico a médio-longo prazo nas vertentes de sustentabilidade e equidade de acesso dos doentes. Uma das inovações organizacionais que enfrentam é a criação de Centros de Responsabilidade Integrada (CRI).
Os Centros de responsabilidade Integrada (CRI), de acordo com a Portaria n.º 330/2017, são estruturas orgânicas de gestão intermédia, dependentes dos conselhos de administração das entidades onde se inserem e com os quais estabelecem um processo de contratualização interna, através do qual negoceiam o seu compromisso de desempenho assistencial e económico-financeiro para um período de três anos.
A Direção Executiva do Serviço Nacional de Saúde (DE-SNS), em linha com as prioridades definidas pelo Ministério da Saúde, é uma das entidades impulsionadora dos CRI, tal como destacado no evento SNS Summit, em 31 de maio de 2023, onde foi evidenciado:
A criação e implementação bem-sucedida de CRI 2.0 poderá assim resultar num impacto positivo não só para os hospitais e para o SNS, mas também para os doentes e para a população em geral.
Para o hospital, os CRI 2.0 terão o potencial de serem encarados como ferramentas de gestão que fomentam a melhoria das condições das suas equipas multidisciplinares, bem como a promoção da qualidade dos cuidados de saúde prestados. Desta forma, tornar-se-ão instrumentos essenciais para contribuir para o aumento da retenção dos recursos humanos, incrementando a capacidade de resposta, reduzindo as listas de espera e cumprindo os tempos máximos de resposta garantida (TMRG). A disponibilização de uma verba dedicada a outros incentivos institucionais permitirá também catalisar os investimentos em formação, equipamentos, soluções tecnológicas, investigação e ensaios clínicos.
Os CRI 2.0 poderão também ser considerados impulsionadores da melhoria contínua do desempenho dos indicadores associados ao doente, especificamente dos resultados de saúde (Patient-Reported Outcome Measures - PROMs) e da experiência nas unidades hospitalares (Patient-Reported Experience Measures - PREMs). Com o acesso mais rápido aos cuidados de saúde e consequente diminuição das complicações associadas aos elevados tempos de espera, e com a redução de custos associados a episódios agudos, a satisfação e a confiança dos doentes nos hospitais do SNS são exemplos de indicadores que tenderão a ser positivamente impactados.
Para além dos benefícios acima descritos, o benchmarking nacional de CRI 2.0 poderá também ser uma importante via de identificação e disseminação de boas-práticas entre os CRI homólogos. Através de um modelo de governação baseado em evidência recolhida e monitorizada de forma padronizada, será possível otimizar a prestação de cuidados e melhorar os indicadores de saúde da população, como um todo. Quanto menor as ineficiências da atividade assistencial, menores os custos associados aos cuidados e, por conseguinte, maior a capacidade e a qualidade de resposta do SNS.
Contudo, para se inovar e explorar outros ângulos para desatar o “nó górdio” relativo à criação de CRI 2.0, é naturalmente exigido disponibilidade, competências e tecnologias digitais à medida de cada uma das realidades dos hospitais do SNS – características que nem sempre abundam de forma concomitante, ainda para mais tendo em conta o novo âmbito organizacional integrado que se espera dentro em breve, alicerçado essencialmente em Unidades Locais de Saúde.
Será então a cocriação o melhor ângulo para se promover a criação e implementação de CRI 2.0?
Márcio Lavrador
IQVIA Portugal